terça-feira, 10 de novembro de 2009

Trechos de mim - parte 1



Não é indiferente,
Tua vida não será mais uma,
Serão várias que formará uma única.
Não será formada de esperança de possibilidades,
Mas de tantas possibilidades que não precisarão de esperanças,
Você não morrerá velho, cansado,
Morrerá do amadurecimento de recém-nascer,
Encontro que o confronta contra o espelho,
E o impede de existir sem saber quem é.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Con(verso) Mudo


Para o amor da minha vida


Con(versar) olhando você é sempre poesia,
Em seu globo ocular vejo meu mundo,
Nas suas lágrimas mergulho no oceano profundo,
que é a minha alma expressa no brilho da íris,
Não deixe suas pálpebras pousarem
do vôo livre de me reencontrar,
Seus cílios sem máscara encobrem
a imagem do meu espelho,
reflexo irreal do real,
verdade romântica que me permite amar.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Dúvida

O Terapeuta, de René Magritte. Leia a interpretação aqui.




Não sou ateia,
sou agnóstica.
Não sou cientista,
que busca uma resposta pra tudo,
sou poeta,
que acolhe o incerto.


Não se tem como
dar respostas para eternas dúvidas,
às vezes, buscar a verdade é mentir.
Mas, não se engane,
ter incertezas não é estar confuso,
perdido, equivocado.


Não desconfio da dúvida,
Ela é minha maior certeza,
minha maior beleza,
o que me faz mudar,
não ser sempre a mesma,

ser mais eu própria.

O ambíguo,
não tem um único sentido,

tem várias possibilidades.
Viver com dúvida é

viver mais livre,
sem limites da certeza.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Distr(ação)

Não sei onde estou,
Enxergo apenas o piscar dos olhos,
Meu ouvido escuta silêncio
no Centro de Porto Alegre,
Há uma certeza:
o resto é uma imagem holográfica,
os carros não atropelam,
as buzinas não existem.
Sua mão segura meu ombro
para o real não me tornar irreal.
Mas, no meio do caos,
consigo pensar com calma
que há perfume de chocolate nos cabelos,
Minha distr(ação) atenta para os detalhes.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Começo

O presente já virou passado,
o apego a fotos e lembranças
não deixa saudade
tudo é eterno começo,
primeiros passos,
primeiros poemas,
primeiros amores.
O sofrimento do fim,
deixa de existir,
pois, depois do começo,
só há re(começo),
o novo, o princípio
o que ainda é vida,
o que deve me ocupar.
Remoer é morrer vivendo.

domingo, 1 de março de 2009

Sensibilidade

Foto de Germano Schuur.


O sensível,
é um músico talentoso,

escuta um leve suspiro,

aprecia o som da batida do coração.

O indiferente,

é surdo,

precisa de sons muito claros,
para distingui-los, aprecia-los.


Com indiferentes,
se fala aos gritos,

a beleza do suave se perde,
a fala se torna restrita.

Cansaço, desgaste,
a graça da palavra emudece.
É fácil enxergar o preto no branco,
difícil é ver os detalhes do por-do-sol.

Amo sentir,

Amo a sabedoria
de quem usa a sensibilidade.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Sonho

Pintura de Salvador Dali.




Eu voo sem bater asas,

Caminho sem tocar os pés no chão,

Olho as paisagens com as pálpebras cerradas,

Toco piano sem mexer a mão.


Eu me desequilibro sem mover meu corpo,

Faço tudo sem fazer nada,

Encho um balão com um só sopro,

faço um poema sem escrever palavras.


Agora, o tempo obedece

meu relógio atemporal,

os segundos seguem a minha alma,

o fantástico, o surreal.


Eu sonho com liberdade,

dormindo em uma gaiola prateada,

desejo roubar um beijo

mas já estou presa apesar de não fazer nada.


Meu sonho inesperado,

logo perde o significado,

vivo minhas surpresas,

para que a vida tenha beleza.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Surpresa

As surpresas incansavelmente se repetem,
novos imprevistos surgem antes de serem cogitados,
só há atos impensados,
não há descanso entre o presente e o futuro,
os sobressaltos me assaltam no escuro.

Tenho calma
porque não há cronologia na alma,
tudo é um começo,
não espero, não planejo.
Se pre(ocupar) com o impensável
é se iludir.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Perfeccionismo

Medo de ser,
Medo de não ser o que espero,
Medo de não ser sempre igual,
sempre perfeita como quero.
Medo de mudar, medo de ar(riscar),
Medo de criar, de re(começar),
Medo de me encontrar de novo,
Medo do novo, medo de desacomodar.
Medo de estar mal,
para depois estar bem.
Medo do que eu imagino,
ser muito aquém.

Meu perfeccionismo me amedrontava,
dava medo ruim, paralisante,
que não me alertava
dos reais perigos da vida.
Ele não deixava eu conhecer o desconhecido,
me impedia de viver o não vivido.

É dificil aceitar,
que o perfeito possível
é o imperfeito.
Que eu sou mais feliz,
sem ter tanta (espera)nça.
Que eu era mais sábia,
quando era criança.
Que o futuro está distante
do meu controle,
e que o passado
já não mais existe.
Que estou feliz,
mas vou estar triste.
Que nem tudo rima,
nem tudo combina
Tampouco quero
perfeição divina.

O Perfeccionista,
nunca se contenta,
Não vive a vida,
Só a aguenta,
Mas agora,
eu serei sempre,
humanamente,
completa e perfeita.

SAPATINHOS DE DOROTHY, VOU ME MUDAR!


Meus sapatinhos de Dorothy estão gastos (O Mágico de Oz). Não gastos de tanto bater os calcanhares para uma mágica acontecer e, de repente, eu ir para minha casa. Mas, gastos de eu tanto correr, de Cartório a Cartório, para conseguir todos documentos necessários para o aluguel. Sem falar nas várias horas gastas em convencer meus pais de me mudar, em arrecadar dinheiro e em encontrar um apartamento legal. Entretanto, valeu a pena! Se tudo der certo, recebo a chave amanhã do meu novo lar.

Nunca imaginei que o meu carnaval perfeito seria em uma avenida movimentada de Porto Alegre, bem longe da minha família e rodeada de paredes nuas despudoradamente me observando. Claro que sempre vai uma vozinha de perfeccionista na minha cabeça, dizendo: "Perfeito seria se você não tivesse que fazer uma cirurgia, não estivesse sozinha no Carnaval, não estivesse brigada com a sua família... Alias, perfeito seria se tu nem precissasse se mudar". Vou mandar esse Grilo Falante dos meus pensamentos, mal-humorado e ignorante, para bem longe. Não era possível ser melhor, então é PERFEITO!

Pela primeira vez, eu vou realmente pular no carnaval. Por muito tempo eu não conseguia acreditar que eu poderia me mudar. Demorou para cair a ficha. Quem viu meu sorriso hoje de bobinha apaixonada, olhando para o céu, pronta para ser atropelada no meio da Protásio Alves percebeu isso. Um taxista chegou até a rir da minha cara.

Mando fotos de quando eu entrar no apartamento. Logo vai sair minha festa. É ótimo poder compartilhar essa alegria com vocês!

Beijos,
Mari

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Vazio

Person at the window, de Salvador Dali

Nada se sente,
muito menos amor,
nada se espera,
nada motiva,
porque não se sente,
nada indica
o que se quer,
não se sabe quem é,
nada indentifica,
não há sentido,
o tempo não passa,
os outros mudam,
mas não se reage,
se está parado,
se está alheio
do resto, do mundo.

Alegria é sair do vazio,
sentir tristeza,
saudade,
qualquer sentimento.
Acaba o tormento,
Sentir é estar vivo.

Quem sente é ente.
Não imita o passado
acolhe o presente.

"Prepara-se a repetição do passado para ter a ilusão de que o tempo não passou." O Médico, de Rubem Alves.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

LISTA DE SUGESTÕES DE PRESENTES

Arte de Eli Guedes - sylenciosamente.blogspot.com

Há seis anos eu quero sair da casa dos meus pais. Não porque não os amava. Aliás, porque os amava, eu resolvi sair. O amor se fortalece com a saudade, e a para haver saudade precisa ter ausência. Saudades é ser presente na ausência. Eu e meus pais precisávamos nos afastar para o nosso amor se fortalecer. (Leia o Inicio de Viagem)

Nesse mês, meu sonho se tornará realidade. Eu estou indo morar sozinha em um apartamento no Jardim Botânico.

Após o carnaval, vai haver uma festa para comemorar o meu novo apartamento. Todos os meus amigos vão ser convidados. Essa festa vai ser bem diferente dos tradicionais “Chá de Cozinhas”, sendo totalmente moderna. Eu ainda não decidi em qual data vai ser, mas já vou publicar a lista de sugestões de presentes. Vale lembrar que leva presente quem quiser e a lista é apenas de SUGESTÕES. Qualquer outro presente, novo ou semi-novo, é muito bem-vindo. E, o melhor presente que eu posso ganhar é a presença de vocês.

Para não haver presentes duplos, mande um comentário com o número do presente que você vai me dar para que os outros convidados saibam que presentes já foram comprados.

LISTA DE SUGESTÕES DE PRESENTES:

Banheiro
B1. Porta xampu.
B2. Porta papel-higiênico.
B3. Kit para banheiro. (saboneteira, copo...)
B4. Lixeira para banheiro.
B5. Toalhas.
B6. Tapete para banheiro.
CORES - branco e azul.

Quarto
Q1. Jogo de lençóis casal.
CORES - branco, laranja e rosa.

Cozinha
C1. Jogo americano.
C2. Lixeira para cozinha.
C3. Escorredor de louça.
C4. Conjunto de talheres.
C5. Conjunto de copos.
C6. Pratos.
C7. Panelas.
C8. Frigideira.
C9. Chaleira.
C10. Canecas.
C11. Colher de pau ou similar.
C12. Caixinha para chás.
C13. Açucareiro.
C14. Abridor de lata.
C15. Saca-rolhas.
C16. Tábua para picar legumes/carne.
C17. Escorredor de massa.
C18. Avental.
C19. Luva térmica.
C20. Pegador térmico.
C21. Vassoura.
C22. Rodo.
C23. Panos de prato.
C24. Suporte para sabão e detergente.
C25. Potes para mantimentos.
C26. Açucareiro.
C27. Assadeiras.
C28. Bacia de plástico.
C29. Balde de plástico.
C30. Bandejas.
C31. Cabides.
C32. Cafeteira de vidro.
C33. Cesta p/ pão coador.
C34. Cobridores de alimento.
C35. Conchas (diversas).
C36. Descanso de panelas.
C37. Escorredor de macarrão.
C38. Espremedor de laranja.
C39. Forma de pizza.
C40. Forma para bolos.
C41. Forma para microondas.
C42. Funil.
C43. Garrafa plástica para água.
C44. Jarra p/ água e sucos.
C45. Jogo de facas.
C46. Jogo de pirex
C47. Pá de lixo.
C48. Pano de prato.
C49. Pegador de gelo.
C50. Pegador de panelas.
C51. Peneiras
C52. Plásticos p/ freezer.
C53. Potes (diversos).
C54. Pregadores.
C55. Prendedores de roupa.
C56. Ralador.
C57. Suporte para papel toalha.
C58. Talheres para salada.
C59. Tesoura para cozinha.
CORES - branco, laranja e roxo.
Muito Obrigada!
Beijos,


Mari


obs. Qualquer dúvida, envie para o meu email marilia_bruhn@hotmail.com.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Sala de esperas

Arte de Eli Guedes - entreosdedos.blogspot.com

Espero me ligarem,
Espero não antecipar a frustração,
Espero não ficar tão deprimida,
Espero não ser perfeccionista,
Espero festas gigantescas,
Espero confiar em mim,
Espero flores,
Espero que meus textos me acalmem,
Espero que eu não me pre(ocupe) tanto,
Espero não amar de menos,
Espero não amar de mais,
Espero luz de velas,
Espero me sentir realizada profissionalmente,
Espero não depender financeiramente dos meus pais,
Espero não depender de ninguém,
Espero que ou tudo de certo ou tudo de errado,
que nada seja relativo e que tudo seja fácil de decidir.
Espero não ficar totalmente sozinha,
Espero que o amor seja para sempre.
Mas, acima de tudo,
Espero não esperar.

Falam tanto que a esperança é a última que morre.
Eu desejo que ela seja a primeira a ir embora.
Quem espera algo, acaba esperando para ser feliz.

Muito tempo na minha vida,
eu estive em uma sala de espera,
esperando que um médico resolvesse
todos os meus problemas.

Na sala de esperas,
lia sobre revistas de fofocas,
sabia mais sobre a vida dos outros,
do que sobre quem eu sou.

Eu era paciente,
passivelmente,
esperava minha vida acontecer:
negava minhas responsabilidades.

Agora, não espero mais,
cuido de eu própria,
sou minha médica preferida,
que sempre me acompanha.

Dedico esse texto a Dra. Cinthya Verri
que me ajuda a eu ser minha própria médica
e a todos que lutam para serem médicos de si próprios e de outros.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

(Cru)eldade

Vampire, de Edvard Munch


A (cru)eldade sempre me surpreende,
você, que eu tanto amo,
é quem mais pode me machucar.

Diz que me ama,
que precisa de mim,
ocupa-se em me acalmar.

Depois, os conselhos carinhosos,
transformam-se em ofensas,
minhas qualidades se tornam defeitos.

Persegue-me incansavelmente,
diverte-se em saber que afeta minha vida,
que pode me fazer tão feliz ou infeliz.

Contudo, a cada nova (mal)dade,
eu aprendo a me defender,
desconfiar é me proteger.

Sei que todos somos (cru)éis,
aceito minha humanidade,
só não tolero quem se acha Deus.

Se queres ser (cru)el
não se canse falando mentiras,
não a nada mais cru do que a verdade.

Mas também não há nada mais saboroso,
do que saber lidar com ela,
a (cru)eldade dá tempero a minha vida.

Para minha irmã,
que tenta amenizar a
crueldade da vida com mentiras,
e só deixa a situação ser muito mais cruel.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Verdade, olha nos meus olhos.

Chiffres et Constellations, de Juan Miró


Olha nos meus olhos,
me traduz os fatos,
escritos com o teu idioma,
na tua testa.

Não finja que nada aconteceu,
tudo sempre se re(nova),
não sei completamente minhas mudanças,
muito menos as tuas.

Sussura sobre ti,
com carinho,
mesmo que tu,
seja tão (cru)el.

A mentira é uma droga,
alivia a dor da ferida,
e você não consegue tratá-la direito,
A dor é um lembrete para o cuidado.
Mas a mentira dá rebote:
um dia seu efeito passa e
a dor é inesperada, devastadora,
mais díficil de acolher.

Quero curtir a vida,
como ela é,
sair da realidade,
eu só quero nos meus sonhos.

Viver estimula minha inteligência,
posso escolher entre a vida e a morte,
mas, sim, escolho ainda existir.
A vida é o meu melhor videogame.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Chuva

Autor da foto: desconhecido.
O tempo é como a vida,
sorriso de felicidade
é o brilho do sol,
lágrimas de tristeza
é chuva da manhã,
que pode aparecer depois de um dia,
alegramente ensolarado.
Às vezes,
há combinações surpreendentes,
sol com chuva,
é chorar de alegria,
raios com temporal,
é explodir de raiva.

Quando chove,
assim como quando choram,
as pessoas sentem-se expostas:
se protegem com seus guarda-chuvas,
escondendo sua cara da opinião alheia.
Imagina se uma gota pode escorrer pelo rosto,
"sou forte não choro" diz o homem encapuzado.

Na infância,
se me machucava,
não tinha vergonha de
chorar em público.
não tinha medo de molhar minha face,
não me protegia da chuva, curtia o momento,
porque sabia: a alegria vem depois
de se jogar no fundo da poça.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Super-heróis

Autor da foto: desconhecido
Na infância,
eu tinha medo de ET,
de bicho-papão,
de vilão da TV.

Com medo de um monstro me pegar,
jamais saía de casa sozinha,
não nadava sem bóia no mar,
nem falava com desconhecidos.

Fui crescendo, virei adulta,
medo de gigantes,
se tornou medo de assaltante.
e pensei: agora, tenho medo de fatos reais.

Como estava enganada!
crio tantos medos ridículos:
antes de ser adolescente tinha mais sabedoria
ao usar a criatividade para viver melhor.

Muitos adultos tem receio
de não serem insubstituíveis,
mas, afinal, quem o é?
Ninguém é tão importante.

Eles se acham mais super heróis do que crianças,
temem o impossível,
e cansam-se,
combatendo o desnecessário.

Hoje, vejo tantos traumatizados,
que deixaram de viver por medos inexistentes,
ao invés de sobreviver por medos reais,
que são preciosos alertas de cuidado.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Despedida

Família, de Tarsila do Amaral É inefetivo argumentar
Contra a falta de razão,
Que o resto de saúde
Consiga me escutar.


Exceto minha própria companhia,
Ninguém é indispensável para mim,
Minha vida me obriga
A encontrar e me despedir.

Quero sentir saudade,
Afastar às vezes aproxima,
Que minha família aceite o convite
De eu própria me abrigar.


A dor que sinto agora,
Desacomoda minha vida,
Corro atrás do meu desejo,
Não tenho (me)do de mu(dar).

Na casa onde moro,
Estou só de passagem,
Já chegou a hora,
Vou seguir viagem.


Para os meus pais, que sempre me abrigaram.
E que agora acolheram, com carinho e coragem,
a decisão de eu me abrigar sozinha.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Angústia

"O Grito", de Edvard Munch
Quatro noites de insônia,
24 horas com loucos,
Questões in(definitivas)
Tiram meu tempo de vida.

Não pre(ocupo)-me com minha inércia,
Com minha falta de solução,
Im(paciência) só traz mais doença,
Aceitar a loucura é o mais são.

Não penso em quantos segundos faltam,
Para a angústia ir embora,
Não consigo contar o tempo
Das minhas sutis mudanças.

Não faço nada,
Estou cansada,
Agora, deixar passar,
É cuidar de mim.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Viajantes

Imagem da minha viagem a Buenos Aires.

É feriado, época dos viajantes fazerem suas aventuras. Vários pássaros encantados, meus queridos, alçaram voo e deixaram-me com saudade. Há um mês, eu que me transformei em pássaro: fui para Argentina. Nessa viagem, percebi a existência de dois tipo de viajantes: os verdadeiros e os falsos.

O viajante falso programa milimetricamente sua viagem. Faz reserva em um hotel internacional, que seja igual em todo o mundo. Nada de lugares onde falem outro idioma, no máximo o globalizado inglês. Hospedagens regionais nunca são utilizadas. O quarto de hotel funciona como um porto seguro, isola o viajante da nova realidade. Os restaurantes frequentados são os McDonald´s, Burger King ou qualquer restaurante globalizado. Ele não experimenta novos sabores.

Para sair do hotel, só se for com uma excursão, guia turístico e turistas da mesma cidade. A nova realidade é vista de uma janela de ónibus, televisão de viajante. A aproximação de um nativo gera ansiedade. O falso viajante tem medo de ser contaminado pela outra cultura. Se ele falar "gracias" já surta: está sendo influenciado pela viagem que fez.

O verdadeiro viajante é aquele que viaja para conhecer novos lugares, culturas e pessoas. Não planeja suas ações rigorosamente. O hotel é hostel, albergue que recebe turistas do mundo todo. A alimentação é inspirada na culinária local. Esse tipo de viajante faz de tudo para aprender o novo idioma. Ele tenta se misturar o máximo possível com a nova cultura.

Viajar é isso: mudar e aprender. O verdadeiro viajante tenta aprender novas formas de se viver. O falso viajante viaja para dizer que fez algo nas férias, tenta se cristalizar no tempo e morre de medo de ser influenciado pela "viagem". Felizes são os verdadeiros viajantes, quem realmente aproveita as suas viagens. Falsos viajantes, tenho uma sugestão: parem de viajar. Se não for para conhecer um novo lugar, melhor ficar assistindo televisão em casa. Viagens sempre vão ter imprevisibilidade.
Leia mais sobre viagens em: "O Mundo é um Barato".

Beijos aos meus Pássaros Encantados, viajantes verdadeiros!

Solidão

Pintura de Edvard Munch.Casa vazia,
som do nada,
observação da i(mobilidade),
tempo que não passa.

Ligação muda,
carta que não chega,
email vazio,
campainha in(tocada).

Piano fechado,
violão sem cordas,
cama arrumada,
ninguém bate a porta.

Ventilador silencioso,
goteira de pia,
(desperta)dor que não toca,
passarinho que não piá.

Solidão chega sem avisar,
enche tudo de nada,
deixa o livro sem letras,
alguém me resgata?

O telefone toca,
ouviram meu grito mudo,
meus amigos chegam amanhã,
aqui, no fim do mundo.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Flor Amarela



A flor amarela murchou,
apesar de estar na água,
o amor não estava por perto,
o sentido da vida foi embora.
Linda flor morreu...




Menina sentiu saudade,
apesar de respirar,
o pássaro não estava por perto,
o sentido da vida foi embora.
Menina continuou vivendo.




Para se viver não precisa
ter motivo presente
basta ter esperança
para esperar mudança.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Uma figura para cada um...

Para meus pássaros encantados que estão viajando...
Mundo maravilhoso, que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama...
E foi assim que ela, cada noite ia para cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento:
- Quem sabe ele voltará amanhã...
E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro...
Rubem Alves


Para as "Maria, vai com as outras"...
Sempre me senti isolado nessas reuniões sociais: o excesso de gente impede de ver as pessoas...
Mário Quintana

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Saudades

Não tenho tanta saudades de quem partiu,
Não tenho tanta saudades de quem morreu.
Morava com os meu pais para não sentir saudades deles,
mas, sinto saudades do(s) eu(s) que se perdeu.


Não tenho medo de saudades,
que faz crescer sentimento,
tenho medo da solidão
meu amor, estou sofrendo.

Para quem eu amo.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

(ida)de tempo

(ida)de é algo que não deveria haver,
tempo de vida, (vi)vida
não é sinônimo de maturidade,
mas, é isso que ouço dizer

tenho sardas de uma criança,
olheiras de velhice,
impulsividade de adolescente,
pés no chão de um adulto

tenho sonhos de infância,
histórias de ninar da Avó,
rebeldia da juventude,
medo de ficar só de todos nós.

não tenho medo das rugas,
não tenho medo de espinhas,
do que realmente tenho medo?
é de tudo parar de estar (muda)ndo.

as (muda)nças do crescimento,
tiram o tormento,
da vida estar morrendo,
e, (re)começando.

Inspirado no filme que eu vi ontem:
"O Curioso Caso de Benjamin Button".

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Duplamente lindos!


Pela citação, no ínicio desse blog, da Clarice Lispector dá para imaginar como os seus livros são inteligentes. "A Descoberta do Mundo" é um (re)lançamento dessa obra que completa 25 anos.
A nova edição está linda!


Quem é fã do Woody Allen, não pode perder o lançamento da versão em português do livro "Conversas com Woody Allen" do Eric Lax - que registra material sobre o cineasta há 36 anos - pela editora Cosac Naify. Esse livro traz várias fotos e entrevistas imperdíveis que demonstram os diversos pensamentos e suas mudanças desde 1971. Imperdível!

domingo, 25 de janeiro de 2009

DIAGNÓSTICO!!!



Há quatro anos eu, minha família, meus amigos e uma grande equipe de médicos tentam descobrir qual é a minha doença, que limita muito a minha vida, e como eu posso me curar. Ontem, um exame que eu havia feito dois anos atrás foi analisado por uma nova médica que, em poucos minutos, conseguiu estabelecer um outro diagnóstico para mim: Sigmóide Redundante. Isso faz com que eu tenha obstipação intestinal e paralisia, provocando dores e limitações físicas. É provável, que eu não tenho apenas isso, contudo, só de conhecer um diagnóstico que explica boa parte dos problemas já me deixa felicíssima.

O que mais me surpreende é o tempo que nós demoramos para fazer um diagnóstico tão simples. Hoje, percebo que só agora eu teria condições de receber e tratar melhor essa doença. Se fosse há alguns anos atrás, eu provavelmente não teria como enxergar e dar o melhor tratamento possível para esse mal. Além disso, como eu já disse na postagem anterior: se não fossem as cicatrizes que eu ganhei, eu não seria que eu sou hoje.

Meu grande medo é sair de uma gaiola e entrar em outra. Há gaiolas que são enormes, tem vários andares, suítes e espaços livres, onde os pais trancam os filhos sem eles nem se darem por conta. Existem outras que as grades são invisíveis e o pássaro preso acredita que está livre para viver todas as possibilidades do mundo, sem nenhuma gaiola para impedir. Hoje, percebo que ninguém está totalmente livre de gaiolas. Os seres humanos prendem e se deixam prender em diversas gaiolas diferentes, somos interdependentes.

Nesse momento, estou saindo de uma gaiola bem pequena, que eu não consigo voar direito, para uma gaiola maior (mas que continua sendo gaiola). Essa gaiola inclui poder tomar cafés em livrarias, comer doces deliciosos, passear de bicicleta em parques, comer pipoca nos cinemas, passear com minha cadelinha, dirigir meu carro, pilotar um avião, ir em jogos de futebol, fazer Medicina, trabalhar com o que eu gosto, tocar Piano, ir em shows, comer as maravilhosas comidinhas da Malú e viajar de hostel em hostel (de mochila nas costas e allstar nos pés) ao invés de passar as férias em um hospital.


É muito difícil se libertar de gaiolas menores porque elas dão sensação de segurança: não há como se perder dentro delas. Fiquei impressionada em perceber o quanto algumas pessoas tem dificuldade de admitir que precisam trancar os seus queridos em gaiolas. Uma profissional do hospital que estou internada me disse: “Tu não podes sair daqui. Tu precisas ficar aos nossos cuidados, se não, tu não vais fica bem”. Isso é exemplo do que fazemos todos dias.

Talvez o único lugar que eu consiga ser totalmente livre seja nos pensamentos, na minha alma. ”Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo." escreve Clarice Lispector. A maior liberdade que eu procuro não é a de mudar de casa (mudar de gaiola), mas de me libertar pelas minhas idéias, pelo meu blog.

“Não me deixe viver o que posso, que me seja permitido desaprender os limites” Carpinejar

Um agradecimento especial a Dra. Nutianne Camargo Schneider, a Dra. Cintha Verri, ao Dr. Fabrício Bragagnolo, a equipe do Hospital Mãe de Deus, a equipe do Hospital Moinhos de Vento, aos meus amigos e aos meu familiares – pássaros encantados da minha vida – que sempre me ajudaram!

Beijinhos,

Mari


CONVITE!

Há duas comemorações nos próximos dias:

- Minicomemoração do meu diagnóstico.

- Chá de Cozinha de Solteira (que fique bem claro: eu não estou me casando) – para comemorar minha saída de casa.
ATENÇÃO! Os homens também vão ser convidados, vai ser uma festa bem moderna. Nada de chá de maçã cozida.

Os convites vão ser postados nos próximos dias!

sábado, 24 de janeiro de 2009

Tatuagem - parte I


Adoro tatuagens! É uma das artes mais originais que eu conheço: mistura perfeita entre desenhos e corpo humano. Tatuagens demarcam nossas vidas, estão sempre contando histórias. Elas são cicatrizes voluntárias que reafirmam nossas identidades.


Há alguns anos, disse para minha mãe:
- Mãe, vou fazer uma tattoo no pescoço.
- Não faça isso. Você só tem 15 anos. E se você se arrepender?
- É, realmente isso pode acontecer. Entretanto, olha quantas cicatrizes que eu tenho que eu não gostaria de ter. Eu tenho uma na testa, de quando eu cai na quina da escada, outra no abdômen, da última cirurgia que eu fiz... Mãe, tenho várias cicatrizes que eu não gostaria de ter e que vão marcar o resto da minha vida. Por que eu não posso ter uma cicatriz que, pelo menos, em um momento da minha vida eu quis?
Ela sempre vai estar participando na formação da minha personalidade. Eu sou "eu" hoje porque eu tive um passado no qual a tattoo está incluída.

Contudo, isso não quer dizer que eu vá viver só de nostalgias. O mais importante é aproveitar o presente. Não gosto de pessoas que ficam cultuando “cicatrizes”, se exibindo. Todavia, detesto ainda mais aquelas que não aceitam as marcas da vida (rugas, tatuagens, cicatrizes) e fazem outras marcas para destruir as antigas, ou seja, apelam para cirurgia plástica. Não tenho vergonha do que fiz. Amo minhas cicatrizes. Não trocaria nada do meu passado porque o presente não seria como é hoje: perfeito para mim.

Semana que vem, eu farei outra tattoo retratando esse momento da minha vida. Mostro quando estiver pronta.



quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Adoecer

Pintura de Edvard Munch - A Criança Doente


Adoecer é exercício de aceitação,
É acolher dor, des(espero) e sofrimento
dos mais sórdidos e violentos
Que me fazem companhia no hospital.

Nesse lugar feito de paredes frias
Estéreis de cor e de vida,
Onde vários olhares de especialistas,
Arrogantemente,
Demonstram piedade e com(paixão).

Vejo-me sem vergonha de gritar,
Fazendo um grupo de pacientes acordar,
E verem eu, fantasma de camisola,
Com totais costas de fora,
Chorar pedindo ajuda.

Adoecer faz-me implorar a qualquer um
Que leve imediatamente a dor embora,
Com a morte ou com a cura,
É idealizar poderes sublimes
A um ser humano.

Não obstante, como tudo na vida passa,
Um dia apago quase tudo com (borra)cha,
E só resta os seguintes apontamentos:
Que não sou tão in(dependente) como penso,
Que eu preciso de vocês.

Para todos que me acolhem quando eu mais preciso.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Amor de filha

Como algo que tanto se deseja pode ser tão desconfortável?
Como pode-se amar tanto uma pessoa e querer ficar longe dela?
A felicidade procura a tristeza para ser mais valorizada...
E o amor busca a saudade para ser amor.

Para Namisi,

quem melhor saber ler meus olhos.

Clique aqui e leia "Olha o olho da menina" da Marisa Prado.


quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Mari(lia) poesia.


A maioria das pessoas que eu amo me chamam de Mari. Eu tenho 19 anos e adoro psicologia e medicina.

As lembranças da minha infância são recheadas de livros. Minhas primeiras leituras, como muitas crianças, eram contos de fadas.

Quinze anos atrás, eu ganhei um livro diferente de todos outros que eu havia lido: “A Menina e o Pássaro Encantado” do Rubem Alves. O nome parecia de conto de fadas e a primeira página também começava com “Era uma vez...”, contudo ele não terminava com “e eles viveram felizes para sempre”. O final tinha um ingrediente proibido em contos de fadas: a incerteza da vida. A última página dizia:
- Quem sabe ele voltará amanhã...
E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro...

Durante a minha vida, eu li essa história diversas vezes e ela sempre se renovava para mim. É o único livro de criança que sobreviveu a minha adolescência (fase de maior imaturidade em que eu queria matar qualquer sabedoria infantil). Como o próprio Rubem Alves escreve:

Para quê uma estória?
...
É elas que tem o poder de transfigurar o cotidiano.
Elas chamam as angústias pelos seus nomes e dizem o medo em canções.
Com isto, angústia e medo ficam mais mansos.
Claro que são para crianças.
Especialmente aquelas que moram dentro de nós, e têm medo da solidão...

Decidi fazer esse blog temporário para conversar comigo e com vocês sobre essa fase de transição na minha vida: estou indo morar sozinha. Por muito tempo meus pais me trancaram em uma “gaiola” para eu permanecer sempre com eles, depender das suas ajudas, e nunca mudar... E eu me deixei ser trancada. Isso prejudicou muito o amor que eu sentia por eles. Não havia saudade...

Agora, a gaiola está aberta... Estou voando livremente... Até a saudade mandar eu voltar...

Beijos aos meus Pássaros Encantados, que estão me ensinando a voar sozinha!

Clique aqui e leia “A Menina e o Pássaro Encantado” do Rubem Alves.